sexta-feira, 22 de junho de 2012

Mulher, corpo e subjetividade: uma análise desde o patriarcado à contemporaneidade - Falando sobre este texto


Falando sobre um Texto: Mulher, corpo e subjetividade: uma análise desde o patriarcado à contemporaneidade (P.451-478)

Autores: BORIS, Georges Daniel Janja Bloc. CESÍDIO, Mirella de Holanda.

O texto objetiva a discussão sobre concepções do corpo feminino do período patricarcal aos dias atuais (O anexo 1 é um vídeo que trata do significado de gênero para uma melhor compreensão. Link: http://www.youtube.com/watch?v=wewFyiC8mcw ). 



Os autores afirmam que o artigo procura contribuir para um maior conhecimento do universo feminino (...), o que pode favorecer uma maior conscientização acerca do papel da mulher e de sua imagem na sociedade (Sabemos, pois, que papel dentro da psicologia social se refere ás expectativas da sociedade em relação ao comportamento de um sujeito baseadas no status que este sujeito ocupa. Ora, me pergunto, então, quais seriam estas expectativas e se elas não nos trariam mais estereótipos e preconceitos, pois, quando esperamos, por exemplo, que uma mulher se case e tenha pelo menos 01 filho antes de seus 30 anos questionamos as escolhas das mulheres que vão de encontro a estas nossas expectativas.). Os autores levam em consideração  influência da mídia na subjetividade, nas percepções femininas e nos significados que a mulher atribui ao seu corpo. (No livro “Os Seis Meses em que Fui Homem”, de Rosie Marie Muraro (feminista brasileira nascida nos anos 30, citada – coincidentemente - nas referências do artigo em questão), a autora descreve como surgiu seu trabalho no movimento feminista brasileiro e cita um pesquisa que ela fez sobre a sexualidade, na qual um dos resultados encontrados foi a visão de corpo feminina e a masculina, sendo que, para as mulheres seus corpos eram elas mesmas,e elas referiam-se a seus corpos como seu “eu”, identificando-se com ele (eu gosto, eu ando, eu vou...); enquanto os homens, nesta mesma pesquisa, se referiam ao corpo como sendo “outro”, e este outro seria seu próprio pênis (ele vai, ele vem, ele sente calor, ele sente prazer...), a mulher, portanto, não faz essa distinção entre seu corpo e ela mesma, ela é seu próprio corpo.)  O que o artigo em questão vem nos trazer é justamente a percepção que a mulher tem de seu corpo e que influências esta percepção tem sofrido ao longo dos anos. 
 


No período patriarcal (O patriarcado significa uma relação de domínio excessivo do homem sobre a mulher, no qual a mulher é extremamente submissa e dependente do homem, nao tendo direitos, possibilidades de escolha, etc. Dentro do contexto teológico é chamado de período patriarcal cerca de 300 anos (+ 2000aC até + 1700aC), sendo o primeiro patriarca Abraão.) o homem é quem tem domínio sobre o corpo da mulher. Segundo Alves e Pitanguy (citados no artigo) as mulheres, no século XIX deveriam se resignar em prol de procriar e dever obediência ao seu pai e ao seu marido (ora, na Idade Média, muitas mulheres foram queimadas vivas, porque eram tidas como bruxas, será que elas faziam “magia” ou não se submetiam ao modelo patricarca, sendo donas de seus próprios corpos, seus conhecimentos, seus prazeres, fazendo suas próprias escolhas?). O movimento feminista veio e trouxe à mulher direitos como o de votar e o de trabalhar fora do lar e, dentro do Sistema Capitalista, a mulher deixou de ter apenas funções reprodutoras, adquirindo também tarefas produtoras de força de trabalho. (Criemos, pois, um paradoxo, Produzir x Reproduzir, as mulheres deixam de reproduzir (imitar) e passam a produzir (criar); para além da reprodução sexual e da produção laboral, podemos compreender esta frase como a saída da mulher do domínio masculino, tendo a possibilidade de ela mesma fazer suas escolhas, tomar suas decisões, produzindo seus próprios desejos e vontades em suas vidas, e deixando de apenas reproduzir as vontades masculinas para ela.) Então, o corpo e a subjetividade são construídos historicamente por cada sociedade em sua época, e é a interação do indivíduo com outros indivíduos e com o mundo e um período histórico que organiza os padrões de conduta.















(Frase: Nós não devemos esperar até que nossas irmãs sejam queimadas e a terra seja chamuscada antes de levantarmos nossas vozes em oposição. Nós temos sido caladas durante muito tempo. Chegou a hora para nós sermos vitoriosas não vítimas.)



Essa discussão foi divida no artigo em três capítulos:
·      Concepções acerca do corpo e da subjetividade feminina desde o patriarcado até os dias atuais – sua representação corporal
·   Influência da mídia na concepção de corpo da mulher – interferência dos meios de comunicação em massa
·      Particularidades referente às mulheres e às influências da mídia e das ideologias - nas concepções do corpo e da subjetividade da mulher
Cultura, Corpo e Subjetividade
Cultura é o complexo que inclui padrões de comportamento, crenças, valores, entre outros, que são coletivos e transmitidos de uma geração a outra dentro de uma sociedade em um período histórico, ela expressa as transformações que esta sociedade sofre. No século XVIII (e ainda hoje!) a cultura era confundida com conhecimento intelectual, portanto, tinha cultura quem possuía certo conhecimento, e seus detentores eram justamente os homens (das classes mais altas). Porém, independentemente da camada social, a mulher sempre devia obediência ao marido, bem como deveria ter a capacidade de se conter, restando-lhe o prazer de agradar (Me pergunto se realmente havia prazer nisso...).
Sendo o “papel” da mulher da época ser dedicada a seu único homem, o homem podia ser poligâmico, logo, os estereótipos desta época relacionados a este tema eram: Mulher branca, virgem, loira deveria ser “para casar”, e as mulheres mulatas, caboclas, com seus grandes olhos deveriam ser “para sexo” (Anexo 2 - Apesar de passado tanto tempo ainda hoje esta separação cruel da mulheres em dois tipos ainda existe, deixo o link para o vídeo de uma letra de música Pop que fala sobre essa situação feminina, e principalmente sobre o machismo que impera ainda na contemporaneidade: Chistrina Aguilera – Can’t Hold Us Down: http://www.youtube.com/watch?v=HTzb0wuVwNc)



Tudo isso era corroborado pelo discurso religioso, pois a desobediência às doutrinas bíblicas (virgindade e submissão feminina, por exemplo) além de levar ao inferno, atraíria ruína à vida do pecador. Outra fato que contribuiu para esta situação das mulheres era o fato de elas permanecerem em suas casas-grandes como se estivessem em uma prisão, passando a ingressar na sociedade apenas para serem mais “agradáveis” nos eventos sociais. Por outro lado, modelo fabril de produção auxiliou na entrada das mulheres no mercado de trabalho, pois cada vez mais trabalhadores eram necessários para aumentar a produção, oportunando ás mulheres preencherem este espaço no mercado de trabalho.

 


O movimento feminista deu coragem às mulheres para que denunciassem a sujeição em que eram mantidas em todas as esferas da vida. O feminismo faz parte de um enfoque multicultural que questiona tanto as ideologias que legitimam a superioridade dos homens sobre as mulheres quanto do capitalismo sobre outros sistemas sociais. Os autores do artigo citam D’Avila Neto (1980) e Alves e Pitanguy (1985) acerca de um estereótipo do sistema patriarcal brasileiro relacionado à mulher: enquanto a mulher branca era literalmente abafada nas casas senhoriais, pois seu universo restringia-se apenas à família e à criadagem doméstica, criavam-se os mitos de exaltação sexual dos tipos mestiços, ordinariamente destinados ao prazer do senhor, já que era atribuída à mulata uma sugestão sensual dos olhos, do modo de andar e do jeito de sorrir, além de que sabia fazer cafunés melhores do que a mulher branca.

No período do início da industrialização, o corpo reprimia seus desejos, suas emoções e sua naturalidade em prol do sistema vigente, tal processo, que pode ser chamado de “docilização do corpo” (Em lugar de castigos físicos,anteriormente aplicados, este processo torna o corpo produtivo e a mente disciplinada) . Para o capitalismo, o corpo e a sexualidade devem ser controlados para que se forme um operário dócil, que se submete à sua disciplina. (Ou seja, da submissão ao patriarca para a submissão ao capitalismo...). No período de vigência do sistema patriarcal, a luta das mulheres não se voltou somente para a igualdade de direitos, mas, também, para a libertação do sofrimento psíquico devido à sua marginalização na sociedade, incluindo seu corpo e seus desejos. Ainda vigoram características patriarcais, famílias em que somente o homem pode trabalhar e a renda salarial feminina ainda precisa ser equiparada à masculina. A mulher obteve cada vez mais conquistas, maior ocupação de cargos considerados masculinos, maior reconhecimento de sua capacidade intelectual e maior contribuição nos gastos financeiros da família, além das funções profissionais, a mulher procurou maior qualificação, juntamente com as tarefas do lar, caracterizando sua dupla jornada de trabalho e sobrecarga. Na família patriarcal, havia uma mulher dominada, que não podia realizar seus desejos sexuais e profissionais, de acordo com D’ávila Neto (1980), a exaltação da mulher virgem era chamada de “madonismo” (isto te lembra algo?...) e nas perspectivas médicas a crença era de que as atividades intelectuais femininas poderiam gerar crianças doentes e malformadas durante a gestação (!!!!!!!!!!!!).

As conquistas femininas (trabalho, emancipação, pilula anticoncepcional...) levaram a uma nova forma de existir que passou valorizar a estética do corpo e a independência financeira e profissional da mulher. Tal valorização foi tão reforçada pelos meios de comunicação que ocorreu uma banalização do corpo da mulher, podemos então reconhecer as mudanças do modelo de subjetividade e de corpo feminino em relação aos dois períodos em questão:


De um lado, uma mulher pura e recatada, virgem quando solteira, e, quando casada, devotada e dependente financeiramente do esposo.


De outro, uma mulher sensual e provocante, estável profissional e financeiramente, mas submetida às imposições da mídia.







Realidade...




O sistema capitalista cria padrões de comportamento e educa a classe operária segundo a sua própria visão de mundo, fazendo com que o corpo produza e consuma produtos vinculados aos desejos da mulher. Ainda há, na sociedade brasileira, traços pertinentes à cultura conservadora. A família e a igreja ainda tentam impôr o que é certo e o que é errado, apontando o que é considerado bom comportamento e o que é inaceitável para uma moça e ressaltando o valor especial atribuído ao casamento e à obediência a padrões e a valores de moralidade estabelecidos e mantidos durante diversas gerações. Diante dos contextos mostrados, percebe-se que o modelo de subjetividade e de corpo é construído em um período histórico e cultural. É a cultura que modela os indivíduos, criando modos de existir de acordo com os valores e as crenças da época.

Continua na próxima postagem.... 

Tah...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Opinião: Forme a sua!!