Falando sobre um Texto: Mulher, corpo e subjetividade: uma análise desde o
patriarcado à contemporaneidade (P.451-478)
Autores: BORIS, Georges Daniel Janja Bloc. CESÍDIO, Mirella de Holanda.
O texto objetiva a discussão sobre concepções
do corpo feminino do período patricarcal aos dias atuais (O anexo 1 é um vídeo
que trata do significado de gênero para uma melhor compreensão. Link: http://www.youtube.com/watch?v=wewFyiC8mcw ).
Os autores afirmam que o artigo procura contribuir
para um maior conhecimento do universo feminino (...), o que pode favorecer uma
maior conscientização acerca do papel da mulher e de sua imagem na sociedade (Sabemos, pois, que papel dentro da
psicologia social se refere ás expectativas da sociedade em relação ao
comportamento de um sujeito baseadas no status que este sujeito ocupa.
Ora, me pergunto, então, quais seriam estas expectativas e se elas não nos
trariam mais estereótipos e preconceitos, pois, quando esperamos, por exemplo,
que uma mulher se case e tenha pelo menos 01 filho antes de seus 30 anos questionamos
as escolhas das mulheres que vão de encontro a estas nossas expectativas.).
Os autores levam em consideração
influência da mídia na subjetividade, nas percepções femininas e nos
significados que a mulher atribui ao seu corpo. (No livro “Os Seis Meses em que Fui Homem”, de Rosie Marie Muraro (feminista
brasileira nascida nos anos 30, citada – coincidentemente - nas referências do
artigo em questão), a autora descreve como surgiu seu trabalho no movimento
feminista brasileiro e cita um pesquisa que ela fez sobre a sexualidade, na
qual um dos resultados encontrados foi a visão de corpo feminina e a masculina,
sendo que, para as mulheres seus corpos eram elas mesmas,e elas referiam-se a
seus corpos como seu “eu”, identificando-se com ele (eu gosto, eu ando, eu
vou...); enquanto os homens, nesta mesma pesquisa, se referiam ao corpo como
sendo “outro”, e este outro seria seu próprio pênis (ele vai, ele vem, ele
sente calor, ele sente prazer...), a mulher, portanto, não faz essa distinção
entre seu corpo e ela mesma, ela é seu próprio corpo.) O que o artigo em questão vem nos trazer é
justamente a percepção que a mulher tem de seu corpo e que influências esta
percepção tem sofrido ao longo dos anos.
No período patriarcal (O patriarcado significa uma relação de domínio
excessivo do homem sobre a mulher, no qual a mulher é extremamente submissa e
dependente do homem, nao tendo direitos, possibilidades de escolha, etc. Dentro
do contexto teológico é chamado de período patriarcal cerca de 300 anos (+
2000aC até + 1700aC), sendo o primeiro patriarca Abraão.) o homem é
quem tem domínio sobre o corpo da mulher. Segundo Alves e Pitanguy (citados no
artigo) as mulheres, no século XIX deveriam se resignar em prol de procriar e
dever obediência ao seu pai e ao seu marido (ora,
na Idade Média, muitas mulheres foram queimadas vivas, porque eram tidas como
bruxas, será que elas faziam “magia” ou não se submetiam ao modelo patricarca,
sendo donas de seus próprios corpos, seus conhecimentos, seus prazeres, fazendo
suas próprias escolhas?). O movimento feminista veio e trouxe à mulher
direitos como o de votar e o de trabalhar fora do lar e, dentro do Sistema
Capitalista, a mulher deixou de ter apenas funções reprodutoras,
adquirindo também tarefas produtoras de força de trabalho. (Criemos, pois, um paradoxo, Produzir x
Reproduzir, as mulheres deixam de reproduzir (imitar) e passam a produzir
(criar); para além da reprodução sexual e da produção laboral, podemos
compreender esta frase como a saída da mulher do domínio masculino, tendo a
possibilidade de ela mesma fazer suas escolhas, tomar suas decisões, produzindo
seus próprios desejos e vontades em suas vidas, e deixando de apenas reproduzir
as vontades masculinas para ela.) Então, o corpo e a subjetividade são
construídos historicamente por cada sociedade em sua época, e é a interação do
indivíduo com outros indivíduos e com o mundo e um período histórico que
organiza os padrões de conduta.
(Frase: Nós
não devemos esperar até que nossas irmãs sejam queimadas e a terra seja
chamuscada antes de levantarmos nossas vozes em oposição. Nós temos sido
caladas durante muito tempo. Chegou a hora para nós sermos vitoriosas não
vítimas.)
Fonte
Imagem: http://antipatriarchy.wordpress.com/page/2/
Essa discussão foi divida no artigo em três capítulos:
·
Concepções acerca do
corpo e da subjetividade feminina desde o patriarcado até os dias atuais – sua
representação corporal
· Influência da mídia
na concepção de corpo da mulher – interferência dos meios de comunicação em
massa
·
Particularidades
referente às mulheres e às influências da mídia e das ideologias - nas
concepções do corpo e da subjetividade da mulher
Cultura,
Corpo e Subjetividade
Cultura é o complexo que inclui padrões
de comportamento, crenças, valores, entre outros, que são coletivos e
transmitidos de uma geração a outra dentro de uma sociedade em um período
histórico, ela expressa as transformações que esta sociedade sofre. No século
XVIII (e ainda hoje!) a cultura era
confundida com conhecimento intelectual, portanto, tinha cultura quem possuía
certo conhecimento, e seus detentores eram justamente os homens (das classes
mais altas). Porém, independentemente da camada social, a mulher sempre devia
obediência ao marido, bem como deveria ter a capacidade de se conter,
restando-lhe o prazer de agradar (Me
pergunto se realmente havia prazer nisso...).
Sendo o “papel” da mulher da época ser
dedicada a seu único homem, o homem podia ser poligâmico, logo, os estereótipos
desta época relacionados a este tema eram: Mulher branca, virgem, loira deveria
ser “para casar”, e as mulheres mulatas, caboclas, com seus grandes olhos
deveriam ser “para sexo” (Anexo 2 - Apesar
de passado tanto tempo ainda hoje esta separação cruel da mulheres em dois
tipos ainda existe, deixo o link para o vídeo de uma letra de música Pop que
fala sobre essa situação feminina, e principalmente sobre o machismo que impera
ainda na contemporaneidade: Chistrina Aguilera – Can’t Hold Us Down: http://www.youtube.com/watch?v=HTzb0wuVwNc).
Tudo isso era corroborado pelo discurso religioso, pois
a desobediência às doutrinas bíblicas (virgindade e submissão feminina, por
exemplo) além de levar ao inferno, atraíria ruína à vida do pecador. Outra fato
que contribuiu para esta situação das mulheres era o fato de elas permanecerem
em suas casas-grandes como se estivessem em uma prisão, passando a ingressar na
sociedade apenas para serem mais “agradáveis” nos eventos sociais. Por outro
lado, modelo fabril de produção auxiliou na entrada das mulheres no mercado de
trabalho, pois cada vez mais trabalhadores eram necessários para aumentar a
produção, oportunando ás mulheres preencherem este espaço no mercado de
trabalho.
Fonte
Imagem: http://sindromedeestocolmo.com/category/feminismo/
O movimento feminista deu coragem às
mulheres para que denunciassem a sujeição em que eram mantidas em todas as
esferas da vida. O feminismo faz parte de um enfoque multicultural que
questiona tanto as ideologias que legitimam a superioridade dos homens sobre as
mulheres quanto do capitalismo sobre outros sistemas sociais. Os autores do
artigo citam D’Avila Neto (1980) e Alves e Pitanguy (1985) acerca de um
estereótipo do sistema patriarcal brasileiro relacionado à mulher: enquanto a
mulher branca era literalmente abafada nas casas senhoriais, pois seu universo
restringia-se apenas à família e à criadagem doméstica, criavam-se os mitos de
exaltação sexual dos tipos mestiços, ordinariamente destinados ao prazer do
senhor, já que era atribuída à mulata uma sugestão sensual dos olhos, do modo
de andar e do jeito de sorrir, além de que sabia fazer cafunés melhores do que
a mulher branca.
No período do início da
industrialização, o corpo reprimia seus desejos, suas emoções e sua naturalidade
em prol do sistema vigente, tal processo, que pode ser chamado de “docilização
do corpo” (Em lugar de castigos físicos,anteriormente
aplicados, este processo torna o corpo produtivo e a mente disciplinada) .
Para o capitalismo, o corpo e a sexualidade devem ser controlados para que se
forme um operário dócil, que se submete à sua disciplina. (Ou seja, da submissão ao patriarca para a submissão ao capitalismo...).
No período de vigência do sistema patriarcal, a luta das mulheres não se voltou
somente para a igualdade de direitos, mas, também, para a libertação do
sofrimento psíquico devido à sua marginalização na sociedade, incluindo seu
corpo e seus desejos. Ainda vigoram características patriarcais, famílias em
que somente o homem pode trabalhar e a renda salarial feminina ainda precisa
ser equiparada à masculina. A mulher obteve cada vez mais conquistas, maior
ocupação de cargos considerados masculinos, maior reconhecimento de sua
capacidade intelectual e maior contribuição nos gastos financeiros da família,
além das funções profissionais, a mulher procurou maior qualificação,
juntamente com as tarefas do lar, caracterizando sua dupla jornada de trabalho
e sobrecarga. Na família patriarcal, havia uma mulher dominada, que não podia
realizar seus desejos sexuais e profissionais, de acordo com D’ávila Neto
(1980), a exaltação da mulher virgem era chamada de “madonismo” (isto te lembra algo?...) e nas
perspectivas médicas a crença era de que as atividades intelectuais femininas
poderiam gerar crianças doentes e malformadas durante a gestação (!!!!!!!!!!!!).
As conquistas femininas (trabalho,
emancipação, pilula anticoncepcional...) levaram a uma nova forma de existir
que passou valorizar a estética do corpo e a independência financeira e
profissional da mulher. Tal valorização foi tão reforçada pelos meios de
comunicação que ocorreu uma banalização do corpo da mulher, podemos então
reconhecer as mudanças do modelo de subjetividade e de corpo feminino em
relação aos dois períodos em questão:
De um lado, uma
mulher pura e recatada, virgem quando solteira, e, quando casada, devotada e
dependente financeiramente do esposo.
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De outro, uma mulher
sensual e provocante, estável profissional e financeiramente, mas submetida
às imposições da mídia.
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Realidade...
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O sistema capitalista cria padrões de
comportamento e educa a classe operária segundo a sua própria visão de mundo,
fazendo com que o corpo produza e consuma produtos vinculados aos desejos da
mulher. Ainda há, na sociedade brasileira, traços pertinentes à cultura
conservadora. A família e a igreja ainda tentam impôr o que é certo e o que é
errado, apontando o que é considerado bom comportamento e o que é inaceitável
para uma moça e ressaltando o valor especial atribuído ao casamento e à
obediência a padrões e a valores de moralidade estabelecidos e mantidos durante
diversas gerações. Diante dos contextos mostrados, percebe-se que o modelo de
subjetividade e de corpo é construído em um período histórico e cultural. É a
cultura que modela os indivíduos, criando modos de existir de acordo com os
valores e as crenças da época.
Continua na próxima postagem....
Tah...
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